Somos todos Sporting… será que somos mesmo?

No dia 31/05/2015, faz agora uma semana, conquistamos de forma dramática e épica a 16ª Taça de Portugal do nosso historial e terminamos com um jejum de títulos que durava à 7 longos anos.

Quando se pensava que esta vitória poderia ter o dom de apaziguar os ânimos e, quem sabe, ajudar à reconciliação entre Presidente e Treinador, eis que, apenas uma semana depois, o cenário de festa se transformou num cenário de guerra e discórdia entre os Sportinguistas:

- Marco Silva foi despedido pela Direcção, tendo esta alegado justa causa;
- Jorge Jesus é contratado para liderar o Sporting nas próximas 3 épocas.

O futebol não deixa de nos surpreender e é uma autêntica caixinha de surpresas! Quem diria que tal poderia acontecer? Eu reconheço que não estava à espera disto….

Despedir o treinador que acabou de nos dar um troféu tão importante e ir contratar o treinador bi-campeão pelo rival do outro lado da 2.ª circular é algo que, de forma natural, gera alguma discórdia. Temos que entender que nem toda a gente tem a mesma opinião e que todos têm o direito a expressar a sua satisfação ou indignação pela decisão da Direcção.

Mas expressar as nossas ideias de forma civilizada e com elevação é uma coisa bem diferente da onda de irracionalidade e estupidez a que temos assistido ao longo desta semana!

Eu próprio era um defensor da continuidade do Marco Silva e assumo-o sem problemas. Aliás, tive a esperança, até ao último momento, que o que quer que tivesse acontecido entre Presidente/Treinador fosse algo possível de ser sanado e que os superiores interesse do Sporting fossem suficientes para prosseguir com o projecto de 4 anos que estava em curso.

E também gostaria, como é óbvio, que o processo de afastamento do Marco Silva tivesse sido feito de outra forma, mais airosa e que agradasse a todas as partes. Mas entendo que, para tal não ter acontecido, é porque o que quer que se passou é realmente muito grave. De outra forma, como é que o departamento jurídico de um clube sério como o nosso iria mover um processo de despedimento com justa causa sem o mínimo de fundamento? E não me digam que é para “ganhar tempo”, porque, sinceramente, isso é uma perfeita estupidez e se há coisa que eu considero é que o clube está a ser gerido por pessoas inteligentes.

Tal como todos os Sportinguistas, gostaria de saber o que verdadeiramente se passou, mas há que entender que está em curso um processo judicial entre as partes e não era agora que a Direcção poderia vir a público apresentar os motivos para esta decisão. A seu tempo, saberemos tudo o que aconteceu e, até lá, a forma mais inteligente de lidar com isto é não alimentar as notícias absurdas e ridículas que a imprensa diariamente veicula. Não compreendem que é isso mesmo que eles querem: dividir-nos e fomentar a discórdia entre os Sportinguistas???

Passando ao ponto seguinte, temos a contratação do Jorge Jesus… um golpe de génio, dizem uns, uma decisão ruinosa, dizem outros.

Mais uma vez, ai está a divisão entre os adeptos leoninos que rapidamente se agruparam em diferentes lados da trincheira e começaram a afiar as lâminas para a guerra!

É incrível como em uma semana passamos da euforia da conquista de um troféu para um clima de guerra aberta dentro do próprio clube… somos verdadeiramente um clube que não precisa de inimigos! Como diria alguém, sofremos de “automutilação crónica”.

Acham que eu aceito assim de ânimo leve que o homem que nos últimos 6 anos deu títulos atrás de títulos ao nosso rival seja agora aquele pelo qual vamos gritar no estádio? Claro que isto me custa a aceitar e me faz confusão! Mas é normal que assim seja… o futebol é feito de emoção e de rivalidades que não se esquecem facilmente.

Mas felizmente que tenho a capacidade de saber entender que, independentemente do clube onde esteve e se fala bom ou mau português, o Jorge Jesus é um dos melhores treinadores portugueses da actualidade, e a qualidade paga-se! Se o nosso rival não conseguiu renovar contrato com o treinador mais titulado da sua história, aquele que lhes proporcionou 10 títulos em 6 anos (mais as 4 finais perdidas...), por que razão não deveríamos aproveitar esta oportunidade?

Aos mais distraídos, recordo ainda o caso do João Pinto, aquele que para uns era o “menino de ouro” e que para outros foi o eterno “Grande Artista”! Na vida, como em tudo, aplica-se a célebre expressão “só os burros é que não evoluem!”

Vamos agora à questão financeira, a qual tenho acompanhado com alguma atenção nos últimos anos. E provavelmente, porque a grande maioria dos Sportinguistas não dá a devida atenção a este aspecto fundamental da vida do Clube, não entendem o trabalho hercúleo que a Direcção fez nos últimos anos.

Em 2013, o Clube estava FA-LI-DO! (e não há outra forma de o dizer). À beira de avançar com um PER, mecanismo que, em Portugal, normalmente culmina numa insolvência da sociedade que a ele se apresenta.

A Direcção eleita (fosse ela qual fosse) não tinha outra forma de lidar com o problema, a não ser arregaçar as mangas e estabelecer rapidamente com os credores um plano de reestruturação e viabilização do Clube que passasse por uma fortíssima contenção de custos, ao mesmo tempo que se tentava por todas as vias maximizar as receitas. Esta era a única forma de equilibrar os pratos de uma balança que vivia desequilibrada à demasiados anos.

O trabalho foi tão bem sucedido que, apenas dois anos depois, a actividade operacional está perfeitamente equilibrada e os recentes resultados trimestrais da SAD têm evidenciado claramente esse equilíbrio. Não passamos de falidos a milionários, nem descobrimos “poços de petróleo”! Apenas temos um clube equilibrado e que agora quer dar um passo em frente no sentido de ser mais ambiciosos a nível desportivo. Entendo isso perfeitamente e também estou consciente que tal aposta envolve sempre uma componente de risco… mas qual é a estratégia que não tem riscos? Quero um clube ambicioso, destemido e que possa vencer! Não é isso o que todos queremos?

Antes que me acusem de algo que não sou, digo-vos já que não concordo com tudo o que a Direcção tem feito. Aliás, nem tenho que concordar! As pessoas são humanas e cometem erros, mas também já deram provas de serem tão Sportinguistas como qualquer um de nós… e isso, deixa-me descansado.

Agora, o que me custa verdadeiramente é ver a divisão entre os sócios e adeptos, quando deveríamos estar UNIDOS e preparados para uma época importante, em que os ataques dos nossos rivais e da imprensa vão ser mais fortes do que nunca.

Goste-se ou não desta Direcção, há que reconhecer com toda a justiça que se hoje estamos a afrontar o sistema, se acabamos de ir buscar o treinador mais titulado de sempre o nosso rival, se conseguimos de sair do buraco financeiro e se temos um clube com ambição, é a ela que o devemos! E no final do mandato, cá estaremos para avaliar se, entre as boas e más decisões, o trabalho foi ou não bem feito.

Deixem de lado as simpatias ou a falta delas e pensem que mais do que os nossos egos e ódios de estimação, o SPORTING CLUBE DE PORTUGAL está acima de tudo!